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ANA PAULA ALBERTO CALDEIRA **OUTRAS PAGINAS, DA PAGINA OFICIAL** http://ana-paula-alberto-caldeira.blogspot.com/ Bloguer*youtuber*pintora*escritora*fotografa* internauta/cronista*Tripulante de Ambulâncias de Transporte, da Cruz Vermelha Portuguesa *Formação Base Cruz Vermelha Portuguesa *Sócia Cruz vermelha Portuguesa*

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PAGINA III O DESAPARECIMENTO DE NORBERTO SMITH,UMA VIAGEM SEM REGRESSO.etc

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PAGINA III


O DESAPARECIMENTO DE NORBERTO SMITH



Estava eu no meu gabinete, com o ar condicionado ligado, quando o chefe me chama:
-Oh! Joaquim santos! Venha ca, se faz favor!
Levantei-me, e fui ao gabinete, do chefe Henrique.
-Joaquim, tenho um caso para si, e para o André Sousa, é o seguinte o sr Norberto smith, desapareceu de  sua casa, não se sabe quando, porque so agora deram pela falta dele.
Alias, ele já estivera desaparecido, em  outras vezes, e voltara, mas não adiantaram onde, eu desconfio que sabem.
Os familiares, supõe que tenha voltado para os Estados Unidos, mas tem receiam que não, porque a outra família dele, também o dá por desaparecido.
Eu desconfio, que desta vez, se calhar não sabem, mesmo dele, por isso, so agora comunicaram, ás autoridades.
Este homem parece-me envolto, em mistério.
O sr é português, mas do lado paterno, descendente de família norte americana, tem 38 anos, vivia na Costa da Caparica, numa casa alugada.
Alias, parece-me que há aqui uma cumplicidade, ele e as respectivas famílias, portuguesa e norte americana.
O lado português,  estavam nervosos, ao telefone, e escondiam alguma coisa.
Receio que isto, termine no FBI, se entretanto não conseguira-mos chegar, a alguma conclusão.
Depois disto, la fomos descobrir, o paradeiro do luso americano.
Eu e o André Sousa, atrevessamos Lisboa, rumo ao outro lado, estava um calor de “rachar” eu transpirava por todo o lado, o carro não tinha ar condicionado, e os termómetros marcavam em Lisboa 40º graus, levamos os vidros abertos, a viagem toda.
Lá fomos, fazer investigação, atravessamos a ponte 25 de Abril para margem sul, para a  casa da família dele, que residia, ali perto da costa da Caparica, pelo endereço encontramos uma moradia pequena, numa avenida muito movimentada, a dois minutos das praias, mas tudo fechado.
Procuramos mais informações, no café ali perto, indicaram o caminho, da proprietária do apartamento, onde ele morou, mas que estava vendido, tinham tirado letreiro, á pouco tempo.
Da família dele, portuguesa informaram que estavam para São Francisco, para o pé da outra familia americana, porque tem falado com eles ao telefone.
Por isso na moradia, tudo fechado.
E que foram eles, informaram a policia, do desaparecimento do Norberto smith.
Lá fomos, olhando a arriba fóssil, gigantesca sobranceira ás praias, André dizia que aquele chão, tinha sido chão de mar, e que a costa da Caparica, so emergiu, depois do terramoto de 1755 em Lisboa, por isso ficaram conquilhas, em pedra nas grutas.
Coisas, que o André sabe.
O calor era intenso, naquele verão de 1995.
Chegamos á charneca da Caparica, perto da casa da proprietária, do apartamento, onde Norberto esteve, alguns meses.
Eu e o André, éramos da policia e queríamos verificar a casa, onde esteve Norberto smith.
Uma senhora muito simpática, referiu que o apartamento foi vendido, e o que la encontraram,  foi apenas um molhe de cartas, de um amigo dele do Senegal, que lhe escrevia, e alguma roupa.
Por desconhecerem família, ficaram com as cartas, guardadas, alem disso o conteúdo,  estava escrito, em inglês.
Eu e André ficamos com as cartas, após identificação.
Pareceu-me historia, perguntamos onde morava família dele portuguesa, a senhora disse que não sabia.
Ele apenas alugou ali o apartamento, em Junho, Julho e Agosto, a família dele apareceu, á um mês, a perguntar se ele ali estava, porque deixou de atender o telefone.
Telefonamos ao Chefe, a contar tudo isto.
Voltamos para Lisboa, nessa tarde.
Pelo caminho, desfolhei as cartas do amigo de Norberto smith, que era do Senegal.
Pelo menos dizia la isso.
Em Lisboa  entregamos as cartas ao chefe, que foram analisadas pelo centro de investigação criminal e pesquisa.
A primeira carta, que foi lida pelo chefe, com a equipa por perto:

“Ilha de Goreé, Senegal.
Naquela manhã a igreja da povoação, junto ao porto encheu-se de gente, alem de ser domingo, também havia vestígios de casamento, ia passando por ali, e parei-me a olhar, foram entrando pessoas com roupas novas e coloridas, fui atrás deles, naquela dia não tinha uniforme militar, estava anónimo.
Sentaram-se nos lugares vazios, e eu também.
Olhava-os, em pormenor, ao fundo um homem, olhava o altar.”

O Chefe pôs a carta de lado, em cima da secretaria e segurou uma caneta, fazendo desenho num papel.
-Temos aqui uma pista, Senegal, ilha de Gorée, quem é este homem, será amigo?
Teria Norberto smith, ido para o Senegal?
Vou lendo as cartas para podermos, chegar a uma conclusão «dizia o chefe»
Eu interrompi:
-Chefe! Esta na hora do jantar, até amanhã!
Retomamos os trabalhos, no outro dia, com uma “seca” de cartas e mais cartas, porque já percebi, que temos, muita investigação pela frente.
Às nove horas, la estávamos nós, á espera do chefe por causa das cartas, tínhamos que saber, mais alguma coisa, sobre aquele caso, finalmente o chefe veio, e iniciamos a segunda carta.

“Estava muito quente ali dentro, e o pessoal foi saindo e eu também.
Na rua a brisa marítima, trazia frescura aquele lugar piscatório, a ondulação estava convidativa a mergulhos.
As horas passavam, e aquele pobre homem ,continuava frente do altar, voltei para perto da porta, e de facto la estava.
Entretanto sentou-se, a igreja já estava vazia, e quando todos abalaram do lugar, ele saiu, eu virei-me de costas, e fiquei a ver o que fazia, sentou-se nas areias da praia a olhar o horizonte, eu fui jantar”

“Vim ate á beira mar, como costume, á noite, quando o vi meter-se num barco e abalar, mar dentro, ainda vim a correr, para saber o que lhe deu, mas perdi-o de vista, pareceu-me que o motor parou, a noite estava escura, á minha volta não  havia viva alma, o som das ondas, abafava outros sons.
voltei para o quartel, ainda pensei pedir ajuda, mas disseram-me que eram pescadores, que se faziam ao mar, de noite para a pesca.
Sosseguei, o barulho do motor era impressão minha.
Norberto, inicialmente não via nenhum interesse, nesta historia, nem neste assunto, mas com a continuação, parece-me interessante, para recordar o serviço aqui no Senegal, aqui nesta ilha.
Uma forma de “queimar” tempo, decidi partilhar isto contigo, tenciono deixar a legião estrangeira, e dedicar-me á família”

Interrompemos para o almoço, ja se tinha percebido, qualquer coisa.
Da vida destes dois legionários, um no Senegal, e outro não se sabe onde, mas supõe-se ca em Portugal.
Depois do almoço, continua a “seca”, nunca tive um caso destes.

“Levantei-me cedo, para saber mais pormenores, fui ate praia e la estava o barco, com os remos de lado, afinal tinha razão, veio a remos para a praia, e esta estava deserta, aquela hora.
Tomei o pequeno almoço, voltei a praia sentei-me á sombra de uma, das muitas palmeiras, da baia da ilha Gorée os pescadores vieram com a pesca,  as crianças corriam para a praia, enquanto as mães, ajudavam a puxar as redes e a tirar o peixe, e olhavam os maridos com satisfação, de estarem vivos.
Reparei que olhavam para a casa amarela, despertou-me a atenção, sai dali e fui mais para frente, para outra sombra de outra palmeira, aquele mistério Norberto fascinava-me.”

Agora! «dizia o chefe» a resposta do Norberto smith, suponho que esta carta, não tenha saído, porque ficou aqui, junto com as recebidas.

“Richard tenho lido com muita atenção, as cartas do ambiente que te rodeia ai, nessa ilha que eu conheço, de serviços da legião, vai relatando.
Nesta ultima parece-me haver uma cumplicidade, daquelas pessoas com triste homem, que ficou no altar, que tristeza.
Dentro em breve, vou sair daqui desta casa, na margem sul de Lisboa.
Depois, adianto mais sobre isto, há novas missões.”

O chefe parou de ler, e fez-se um silencio.
-Temos aqui, dois homens um que esta no Senegal, e outro não.
Que tipo de amizade, haverá entre eles, terá o richard a ver com o desaparecimento, do Norberto?
Começa a ser importante, a leitura completa destas cartas.
Vamos ao resto «respondeu o chefe»:

“Ali perto da casa amarela, reparei que alguém la dentro, olhava por detrás dos cortinados, para ver o que se passava ca fora, aproximei-me, e reparei que as mulheres da praia,ambém observavam a casa, sobranceira ao mar.
Fiquei ali, a ver o que acontecia, de seguida.
A faina das mulheres, termina pouco tempo depois, e recolheram para casa para o almoço, com os filhos e os maridos.
Por fim o homem sai, e senta-se na varanda, numa cadeira,a olhar a imensidão do mar.
Percebi tudo, aquele pobre homem não queria, que o povo o vi-se.
Voltei para o quartel, estava intrigado com tudo aquilo.
Nessa noite levantou-se uma tempestade, que ouvia-se o ruído das ondas, aqui da minha janela do quartel, virada para o mar.
So pensava, que o mar ia engolir a ilha.
Adormeci, e quando acordei, e fui fazer o meu passeio diário, á beira mar como era costume, muitas pessoas por ali, e as mulheres faziam o seu pranto.
Ao chegar mais perto, verifico um corpo morto, no chão.
Que tristeza, que teria sido.
Um velho pescador, contou-me que ontem á noite, se fizeram ao mar, e tiveram um acidente, e aquele jovem morreu.
Uma jovem rapariga grávida, chorava junto dele.
Manhã triste aquela Norberto, fiquei muito sensibilizado, e pensativo com tudo aquilo.
O que levaria aqueles homens ao mar, numa  noite medonha, como aquela de ontem.
O estranho, é que foram todos, a correr para a casa amarela, e o tal pobre homem veio de lá, com uma pasta, a correr em direcção ao que parecia já morto, e de facto estava.
Voltei para o quartel, porque tocou o telemóvel.”

Ora muito bem «dizia o chefe»:
-Temos um morto, que diz ele ter sido do mar, ou seja afogamento, vamos ver o resto.

 “Depois dos afazeres no quartel, e já com visto marcado, para os Estados Unidos, voltei á praia, dei uma volta junto ao mar, e por perto dos barcos, houve um que não me era estranho, o do golfinho, fiquei a pensar e descobri o tal barco, que o outro levou naquela noite, que depois parou o motor e ele veio a remos.
Entretido a olhar o barco, quando oiço gritos na direcção da casa amarela, e quando olho sai de lá uma mulher jovem, parece-me grávida a correr em direcção as aguas, continuando a gritar, e a chorar ao mesmo tempo.
Avançando pelo mar agitado, um homem corre atrás dela, lutando contra as ondas e tentando puxa-la, para a areia, fui para perto para oferecer ajuda, reparei que era muito jovem.
Fiquei perplexo e muito confuso, com toda aquele tragedia, seria o homem da casa amarela, o mesmo do altar.
Esqueci toda aquela confusão, e dei todo o meu apoio como enfermeiro, habituado a cenário de guerra profunda, mas não destas tragedias, fiquei a saber que o homem do salvamento era medico, quando este foi cuspido, por uma onda para terra, e a grávida também.”

Olá! «dizia o chefe»:
-Temos aqui, uma equipa do INEM ?
Demos todos, uma gargalhada!
Eu fui almoçar, e os restantes também, o chefe ficou a olhar o resto das cartas, por ler e escrevia, apontamentos nas folhas, enquanto mordiscava uma sandes e bebia um café.
Voltamos depois do almoço, para ouvir o resto da historia, que parecia interessante.
Ficava muitas duvidas, sobre o relacionamento de Norberto e richard.
Voltamos á sala, e sentamo-nos nas cadeiras.

“Quando o medico recuperou, começou a rapariga com dores de parto, puxamos a jovem para cima, o mais possível da fúria das ondas, e fizemos o parto mesmo ali, do meu telemóvel, pedi reforços ao quartel, que de imediato, chegaram.
Eu o medico, e a jovem, mais a equipa de socorro, seguimos para o quartel, para tratar da jovem, e do bebé, que parecia estar bem, entreguei-o ao medico, que agora sorria de felicidade, enquanto a mãe esperava.
Eu sabia, que estava errado, mas queria dar um momento de felicidade, aquele homem, que sofrera tanto nos últimos dias, e que a salvara, da morte”

Levantei-me para beber um café, imaginei o rapto do bebé, e estaríamos em trafico de crianças, diriam á mãe que filho morreu, é típico este cenário.
Norberto descobre e matam-no, é isso, é isso! Isso mesmo! fiquei em silencio, mas não por muito tempo, o café fez-me dizer, o que sentia.
O chefe abanou a cabeça, que não! E já lia a outra carta, de richard.
Então como seria?
André bebia uma agua, quando olha para mim, e pisca o olho, percebi que pensava o mesmo que eu.
O chefe iniciou a outra carta, a quinta ou sexta.

“Depois de a mãe ter repousado, e de lhes terem sido feitos, os cuidados necessários e se encontrar aparentemente, de boa saúde demos-lhe, o filho.
O medico, josef sharon foi de opinião, que o bebe devia chamar-se richard júnior , em minha homenagem.
Fiquei sensibilizado, eu seria o padrinho, não quais estragar a festa, mas dentro de dias, partiria para os Estados Unidos.
Eu iria deixar, a legião estrangeira.”

Ficamos a olhar, uns para os outros, e o chefe também.
-Esta o mistério desvendado, para aquele lado «dissera ele»
Porra! «disse eu!»
O inspector que entrara entretanto, corrigiu-me:
-Então! Então! Agente Joaquim santos! Vamos com calma! Estão aqui senhoras.
Olhei á volta, e estavam de facto, entraram sem darmos conta.
Eram estagiarias inspectoras, e agentes.
O chefe continuou com outra carta, esta de Norberto, batemos palmas, respondemos e coro:
-Finalmente, finalmente!
O chefe sorriu, outra que não seguiu, e começou:

“Estou feliz, por ti richard, mais um afilhado, fico triste por deixares a legião, eu tenciono voltar, a vida ca fora não tem sentido, longe de todos vós, a minha família é a instituição, que servi anos e anos a fio, e do qual espero voltar, com novas missões e para sempre, sem atropelos, um abraço.”

Ficamos todos a pensar no mesmo, dois legionários, um de saída, e outro de volta.
Cada carta é um mistério.
O chefe diz-nos, que ainda faltam umas três.
Olhei o relógio, e estava na hora da saída.
Ate amanhã, tenho que ir com o miúdo, consulta dentista, é a minha semana.
O fim de semana, entrou e lá fui com o miúdo para a praia, estava com tolha estendida na areia, quando uma mulher se dirigiu a mim:
-Sr agente, lembra-se de mim?
Agora, o que é? que esta quer?. «pensei eu»
-Sou a dona da casa, onde estava  norberto! Lembra-se?
Dei um salto, da tolha.
-Sim! Sim! Diga!
A mulher, chegou mais perto:
-Já sabem alguma coisa, do sr norberto?
Não! «respondi»
-Não leram as cartas? «insistiu ela»
-Não! Quero dizer! estão para investigação, «respondi de seguida»
-Muito bem, temos muitas saudades dele! «continuou a mulher»
-Ah! Sim! Então porquê? «respondi de novo»
O miúdo caiu e começou a chorar, que queria ir á mãe, olhei a mulher, agarrei no miúdo e abalei, quando ia de costas, lembrei-me do seguinte:
-Olhe ligue para PJ, agente Joaquim santos, investigação criminal, III secção.
A mulher vasculhou o saco, e escreveu, duvido que tenha conseguido, porque o som das pessoas, do mar e do miúdo a “berrar” era difícil, mas nós tínhamos a morada dela, e íamos lá se fosse preciso.
O fim de semana, foi com o miúdo, porque a minha mulher, estava no Algarve, com a mãe dela.
Segunda-feira, a “seca”das cartas e eu, com pouca paciência, levei o domingo “enfiado”no jardim zoológico, em frente á jaulas dos macacos, porque era do que, o miúdo gostava.
O chefe inicou, seca das cartas.

“Norberto, convenci o medico israelita, a ficar com a mãe e o bebé, ate o assunto se resolver, ela não era dali, mas da Etiópia, e pelo que pude saber, tambem não tinha dinheiro, para ir para junto família, eu o que tinha, era para regressar aos estados Unidos, ao Texas.
Vim a descobrir, por outros pescadores, que a família dela, morrera nas guerras civis da Etiópia, e fugiu com mais algumas pessoas, para ali.
Desconheço se historia será essa, porque ela nunca fala, e o medico, também diz que não a percebe.
Muito complicado esta gente, por cá.”

Estou comovido, ate aos ossos, «disse eu!»
O chefe mandou-me calar, «oh! Joaquim Santos! Dispensamos, os seus comentários, populares! Esta bem?»
Percebi, que não gostaram, eu estava farto de tanta “peta” “garruços” atrás de “garruços”, o melhor era não dizer mais nada, se não chefe, diria de novo, linguagem popular.
O chefe de novo: «oh! Joaquim santos? É favor de se sentar!»
Eu nem me apercebera que estava de pé, e já tinha bebido, sete ou oito cafés, so me lembrava da jaula dos macacos, ontem e se a mãe não vem do Algarve, la tenho que ir outra vez, hoje á tarde, quando sair daqui.
Hoje digo-lhe que os macacos foram ao encontro da mãe, deles e vamos ver os leões, eu não tenho paciência, para miúdos pequenos.
Com tudo isto, o chefe lia mais uma, das muitas cartas.

“Norberto, dentro de uma semana, parto para o Texas, não tenho recebido correspondência tua, encontras-te bem? Estou preocupado!
Já falei em ti no quartel, e a preocupação foi geral, também!
Esta será a minha ultima carta, porque percebi que não as recebes, se recebes, responde.”

Complicado! «exclamou o chefe»
Olhamos todos, uns para os outros.
A minha mulher liga-me, a dizer para não levar mais, o nosso filho a ver leões, de repente so pensei no Sporting, olhava o leão, na secretaria do chefe.
Afinal era o episodio de ontem, no jardim zoológico, o nosso filho levara a noite a ter pesadelos, que eu e ele, a ser comidos pelos felinos, de pelugem amarela e farta, que faziam rujidos.
Respondi á minha mulher, que para próxima, leve-o a ver as águias.
Desligou o telefone.
Quando desliguei o telefone, estavam todos a olhar para mim.
O chefe:
-Joaquim santos? Podemos continuar, ou tem que ir almoçar?
Respondi de imediato:
-Sim! Chefe vou almoçar! O miúdo foi para o hospital, e de tarde se calhar não venho, a mulher ainda esta no Algarve, a mãe continua hospitalizada.
Estava farto das historias, aquilo não dava em nada, e quem iria saber, daqueles dois americanos, era o FBI.
Já ia ao fundo da escada, quando o André me chama:
-Oh! Joaquim! Anda cá! Pá! So já falta duas cartas.
Pensei duas vezes, se calhar era melhor ir!
La fui, sentei-me ca atrás, o chefe continua.

“Amigo Norberto, fiquei contente, por teres respondido, comprendo a tua decisão e aceito, por completo.
Entretanto os dias por aqui, tiveram novidades, da relação de amizade, com o medico israelita, soube de alguns aspectos, da vida deste homem.
Aquela ilha seria cenário, do seu casamento, que não se realizou, pelo simples facto, de a noiva, ter desaparecido na véspera, no iate dela, e nunca mais ter voltado.
Mas ontem veio o iate, e ela não.”

O André interrompeu: «parece o triangulo das bermudas»
O chefe continuou:

“O medico estremeceu, e os pescadores acorreram á praia. Foi ai que eu descobri o que se passou, e porque aquele homem, ficou no altar, sozinho e a mulher não apareceu”

Ficamos todos pensativos, olhamos uns para os outros.  
-Nunca pensei, que isto chega-se a este ponto, mas tem que ter um final.
O chefe acrescentou:
-Pois tem, mas está fora da minha área, porque passa-se no estrangeiro, o assunto terá que ser transmitido, ás autoridade norte americanas ou senegalesas.
Continuaram as cartas.

“La foram ao banco de areia, onde estava o iate encalhado.
Eu não fui, fiquei á beira mar, a ve-los.
Quando vinham para terra, veio uma ondulação mais forte, desencalhou o iate e levou-o de novo, desta vez contra as rochas, que de imediato se começou a afundar.
Nuca se soube, do que se passara com a tripulação, porque afinal, ela não sabia tripular iates, nem barcos de recreio, nem de espécie alguma. Só carros desportivos.
Josef Sharon, olhava o iate, quando fui busca-lo.
Trouxe-o, para o quartel, e convidei-o a vir comigo para o Texas.”

“Regressei ao Texas, para junto da minha família, Sharon regressou para Israel, do quartel, ligaram-me esta tarde, que aparecerem uns corpos na praia, baleados na cabeça, uma mulher e dois homens, desconfiam ser os tripulantes do iate.
Já estou desligado da legião, já não voltarei lá, imagino com estará sharon..”

 O chefe, terminou as cartas.
-Agora é tentar saber, a morada do americano, ou falar com a família de Norberto, se conhecem richard? Ou participar o caso, aos colegas internacionais.
O Inspector foi tratar do caso, entrou em contacto com a família de Norberto, acerca de richard,   ficamos surpresos, com a resposta.
-Bem! Amigos! temos novidades, e um assunto ,que nunca mais acaba.
Sentou-se.
-Vejamos, Norberto e richard são primos, do lado paterno, logo norte americanos, portanto dai as cartas.
Respondi de imediato:
-Acabou o caso!
Todos olharam para mim, o chefe revirou os olhos, e de seguida:
-Cala-se! Joaquim santos, vá mais vezes, ao jardim zoológico, mas ver os golfinhos.
Todos deram um gargalhada, e eu também.
Respondi de seguida:
Não vejo golfinhos, mas golfinhas, gólfinhas, giras, muito giras.
O inspector continuou:
-Pedi o contacto de richard, á legião para falar com ele, porque talvez Norberto, tenha voltado para legião, e estou á aguardar tambem, que família dele, diga alguma coisa, sobre este assunto.
Ficamos á espera, das respostas, que viessem dos telefonemas, mas não demorou muito tempo, que richard, liga-se, acerca do norberto, depois do inspector falar com ele, sobre o sucedido, richard prometeu tomar diligencias, para saber o paradeiro do Norberto, sem entrar em detalhes, garantiu que traria boas novas.
A família portuguesa de Norberto, voltou para Portugal,  falamos com eles, mas não se mostraram disponíveis, para falar sobre Norberto, e que para eles o assunto, estava encerrado.
Richard finalmente trouxe novidades de Norberto, estávamos todos reunidos na sala inspector.
-Inspector Eduardo, falei com Norberto, ele esta bem, encontra-se em serviço na legião estrangeira, e mudou de identidade, dai haver o problema das familias dele, em não conseguirem encontra-lo, isso deve-se ao facto, da mudança de identidade.
Já falei com ambas as famílias, eles não entendem porquê, mas são opções pessoais.
Richard, falou pouco mais sobre o assunto, e de imediato, o inspector contatou, de novo a legião estrangeira, acerca de Norberto, que confirmaram isso mesmo, que richard, tinha acabado de dizer, as respectivas famílias, não quiseram falar mais, sobre esse assunto.
O inspector cabisbaixo, olhou para nós.
-Um mundo complexo, o caso de Norberto smith, o processo do desaparecimento, esta encerrado, ele voltou para legião estrangeira, para sempre, e pediu o anonimato.
ana paula alberto caldeira, 09/08/1995
   
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UMA VIAGEM SEM REGRESSO.





 Estava eu, a vaguear, pelas ruas daquela cidade do interior de Portugal, quando vejo, Mário da Silveira, com um grande Porshe, e uma loira bombástica, junto dele.
Na altura, escondi-me, para ver para onde ia sua excelência, mais o “filete”.
O mariosinho, dirigiu-se a uma agencia de viagens.
E eu fui atrás:
-Oi Mário, como vai isso?
De imediato, Mário conheceu-me e esboçou um grande sorriso.
-Oh pá! quanto tempo, não te vejo!
Eu dei-lhe um abraço, eu gostava do tipo.
Conversa, puxa conversa, e Mário, estava de abalada, para o Paris, do outro lado da rua, o “filete” platinado, chamava-o:
- Mari, vem! Dono do stand, quer aqui você, para pagar carro novo para mim, vem xuxu!!
Tive vontade de rir, e chorar, sei lá! Ate me enchi de suores, Mário olhava-a, e sorria, como um parvinho, apaixonado, e eu também, de igual modo, uma doçura de mulher, parecia uma “mon cheri”.
Disfarcei, Mário foi em sua direcção, mas antes perguntou-me como ia minha vida, tive vontade de lhe dizer, arranja-me uma mulher como a tua, e serei o homem mais feliz do mundo, a “filetezinho”, era linda.
Respondi, ao meu amigo de longos anos.
-Mario! Estou mal, perdi emprego, perdi a casa, perdi mulher, e perdi filhos.
Mário ficou assustado.
-A sério? Morreram?
Não devia ter dito aquilo.
-Não! Amigo, mulher divorciou-se de mim, e levou filhos, para Angola, e arranjou outro, e eu fiquei por cá, desempregado.
Mário, olha para mim, e sorriu.
-Ok! Olha amanhã parto para Paris, se quiseres vir, pode ser que consiga arranjar, por lá algum serviço, não direi definitivo, mas por algum tempo, sabes que isto em França, já não é como era, como no tempo do teu pai, década de 50, 60 e até 70, em alguns casos.
Mário virou as costas e abalou, entretanto vasculha os bolsos, e tirou algo, e me deu, para eu guardar.
-Toma! É para comeres, e comprares roupa, telefona-me se quiseres ir, Luana não vai, vamos só nos os dois.
Mário, seguiu direcção stand, e eu segui, para outra rua, virei na esquina próxima, e meti-me numa igreja, que so descobri quando entrei.
-Óptimo, aqui posso ver, o que ele me deu, bestial 500 euros, mais o seu cartão de contactos.
Mas que faço eu,  um ateu e anarquista, numa igreja? Estranho aquele lá fundo, parece sorrir para mim, Ahhhhhhhhhhh, espera ai, o que fazes ai nessa cruz, pendurado? Francamente, ainda há quem tivesse sofrido, mais que eu! Não te tiram dai porquê?
Coitado, deixa ver ao menos, como se chama! Hummmm, Jesus de Nazaré? estranho, não deve ser  da nossa Nazaré?!
Mas como sou estúpido, aquele ali pendurado, é Jesus Cristo, o que minha avó dizia, que fazia milagres, pois é? Por isso é que a minha ex-mulher me deixou, como eu lhe dou razão, quando ele me chamava:
-Ès mesmo burro! Chico! .
Tinha razão, olhei para nota de 500 euros, e para o Cristo.
-Olha amigo, eu tenho pena de ti, e gostava de te tirar dai, mas preciso muito deste dinheiro, o que fazemos?
Já vinha de volta, quando tropecei, num saco de plástico, com algo lá dentro.
-O que é isto, um saco com uma coisa preta, estranho!
Abri, fiquei deslumbrado, uma carteira, com 100 euros, e muitos trocos, olhei para trás, e parecia, que o homem da cruz, sorria para mim.
-Pois é! Amigo! e agora? o melhor é dividir, ao meio? O que achas?
Entram pessoas na igreja, e só tive tempo de guardar tudo, no bolso e sair dali. Quando cheguei á porta, olhei para trás, e sorri.
-Um dia, dar-te-ei a tua parte, amigo! Obrigado!
Aquele dia, para mim foi um sonho, de um momento para o outro, já tinha dinheiro, para gastar em todo lado, e pela primeira vez pensei bem, o que fazer.
Perdi a fome, mas comi, comprei roupa, nos chineses, e uns sapatos novos, dormi na pensão, mas antes telefonei ao Mário, e de madrugada, já passávamos a fronteira de Elvas, comemos em Badajoz, e seguimos, ao norte de Espanha.
Eu conhecera aquelas estradas, a minha vida tinha sido, ali a trabalhar, anos e anos a fio, a conduzir os TIRs e estava novamente em viagem.
Mário não levou o Porshe, mas o Ferrari estranho, não me deu o sono, mas deu-lhe a ele, e quem conduziu o Ferrari fui, eu não passei dos 90 km/hora, nas auto-estradas.
Parei numa estação de serviço, em Burgos, que eu conhecia, Mário ficou a dormir, ainda o abanei, ele abriu o olhos e ficou outra vez a dormir, levei a chave comigo.
Entrei na estação de serviço:
-Bom dia, queria um café?’
Abanei as chaves do Ferrari, para sacudir o pó, e as mulheres que ali estavam, ate torciam os olhos, e ajeitavam o cabelo, e as blusa justas, que não desciam mais.
O cavalo preto, no fundo vermelho, tinha um certo poder, sobre elas, e deixava-as doidas.
Por mim não era de certeza, porque eu era feio, como o “caneco”, só a minha ex-mulher dizia, que era lindo! em certas alturas, também não era sempre, porque a maior parte das vezes, era para o cão.
Mário acordou, e veio comer para a mesa, fui fechar o carro.
Cheirava-me a um cheiro esquisito, sei lá, urina de gato, pensei.  «não acredito gatos urinar, nas rodas do Ferrari!» mas não, havia era ali arruda aos montes, interessante a planta das bruxas, se calhar dava jeito.
Quando Mário saiu do café, andava eu, a escolher ramos de arruda.
Mário, chamou-me.
-Anda! os gatos já vieram urinar nas rodas do Ferrari, olha aqui tudo molhado, o que andas ai a fazer?
Menti, disse que fora atrás de um gato, que urinava para o carro, e apanhei-o.
Mário acreditou, mas exclamou:
-Hummmmm! Cheiras a “mijo” de gato, e é dai das calças.
Eu trazia arruda no bolso, e disfarcei.
Mário guiava o Ferrari, quando entramos nos baixos Pirinéus, paisagem deslumbrante, como sempre, estávamos em Maio, os campos verdejantes, e floridos as montanhas pontiagudas, ainda com alguma neve, e grandes vales a perder de vista, com as pitorescas casas da montanha, aquele sitio fascinavam-me.
Eu passara ali, mais de 100 vezes, quando fazia serviços para norte da Europa.
Mário olhava a estrada, e as curvas dos Pirinéus.
Imaginava o meu pai e outros a atravessarem, aqueles trilhos escondidos pela vegetação, a salto com os contrabandistas, para terras de França, foi duro, a vida para algumas pessoas, e é dura, tal como o Cristo na cruz, não era para tirarem dali o homem.
Se a outra me ouvisse, diria logo de seguida: «porque é que és, estúpido?»
Se calhar sou, sei lá!
Meti conversa com Mário:
- Hei Mário, que tal paisagem?
Mário estava atento ás curvas, e o Ferrari voava, pensei: «é hoje que morro aqui!»
Mário tinha sido piloto de formula1, Formula Drift, e participara nas 24 horas de Le Mans
Cada vez que surgia uma curva, agarrava-me ao acento, pensava:«meu Deus, ja não vejo mais, a minha ex-mulher e os meus dois filhos!, hoje morro, aqui! num destes penhasco, metido num Ferrari, meus filhos dirão, «o que nosso pai ,faria dentro de um Ferrari, com outro homem? Talvez contrabando? Ou outras coisas»
Eu estava habituado a guiar TIRs, paramos para jantar, Mário olha para mim:
-Jantamos aqui, e dormimos aqui, e depois seguimos para Paris.
Eu não conhecera, aquele sitio, estava desconfiado, alem disso era de noite, veio logo um tipo muito simpático, francês falar com Mário, levaram o Ferrari, e deixaram-me ali, naquele sitio, á porta do Hotel Croix de Malta.
Só me lembrava, do meu pai, teria passado pelo mesmo, quando foi para a França.
Estava intrigado, com o sitio.
Vieram buscar-me, uma das mulheres, era freira pensei: «mau! ou é mesmo freira! ou é um disfarce, e a noite é boa! Comecei-me a rir»
Reparei que a mulher não achou piada, e pegou-me no braço, e fez com que eu entra-se, no hotel, «pensei de imediato» agora de seguida leva-me para a cama.
O meu francês, meio aportuguesado, fiquei a saber, para onde me levara Mário.
Estava, no santuário de Lurdes, Pirinéus Franceses.
Fui dar um passeio, á procura de Mário, eu nunca ali tinha ido, cruzei-me com ele, ali perto. 
Fomos para o hotel,  para o jantar, e nessa noite saímos,  encontrei o tipo da cruz, numa basílica subterrânea, dei-lhe o que lhe devia, mas reparei que uma imagem de mulher de azul claro, sorria. «ou estou bêbado, ou estou maluco!, quem é aquela?»
Foi-me dito, por um homem, que se tratava de Notre Dame de Lourdes, Mário estava do outro lado, da basílica subterrânea, e ainda bem, se não era mais um, a dizer, como diria minha ex-mulher :
 «Ès mesmo estúpido! Chico»
Passara ali perto, centenas de vezes com os TIRs, para o norte da Europa, mas nunca desviei para ali, nunca tinha tempo.
Agora tive, porque estava, desempregado e sozinho na vida, e um amigo deu-me a mão.
Apeteceu-me chorar, mas não consegui.
O homem que me acompanhava, despediu-se de mim, e seguiu para casa.
E fui andado, junto ao rio de leito branco, ou seja de gelo, lá de cima das montanhas.
As noites aqui, eram sempre frias, nos Pirinéus franceses, e em toda esta zona montanhosa, que é os Pirinéus.
Isso eu sabia, porque costumava dormir em Toulouse, ali perto.
Fui andando, esfumando um cigarro, e as luvas calçadas, e o blusão fechado.
As luzes junto ao rio, estavam acesas, ate á gruta, onde estava a imagem da santa, parei-me junto dela, a contempla-la, sozinho naquele lugar, afastado do Santuário.
Completamente distraído, quando me tocam no ombro, dei um salto, e desatei a fugir, so parei no hotel, ou seja num largo, que eu não sabia, ao certo por onde seguir.
E agora pensava eu, quando minha ex-mulher dizia, nestes casos: «liga o Google maps, ou o GPS»
A minha ex-mulher e eu, éramos muitos parecidos, nestas coisas, complicadas.
Telefonei ao Mário, e ouvi uma voz atrás de mim, e corri, de novo, por aquelas ruas estreitas, dos hotéis do santuário, do outro lado, era o Mário, ao telefone a falar comigo.
-Olha, lá! já sei porque a tua  ex-mulher, te deixou! -«disse o Mário!»
Venho a correr atrás de ti, desde gruta de Notre Dame, para te dizer que o hotel é aquele ali, ou seja, era ali, por agora fica lá atrás, temos um longo caminho ate Paris, vamos embora para o hotel, deixa-te de graçolas.
No outro dia de manhã, um dia de Maio enovelado e frio, tomamos o pequeno almoço, e seguimos, num Audi.
Levávamos companhia, ate Limoges, o percurso  de paisagem florida, já não há gelo, mantos verdes, e campos  com gado a pastar, com muita erva fresca, muito sol para aqueles lados.
De seguida uma arrancada ate Paris, o Ferrari apareceu outra vez, e seguimos.
Cheio de curiosidade, perguntei-lhe, o que se passara com os carros.
-Este Ferrari é outro «respondeu o Mário» o Audi, era do frade da ordem de Compostela, que veio para Limoges, para uma congregação.
Adormeci ate Paris.
Eram duas da amanhã, quando chegamos, Mário acordou-me.
-Acorda Chico, chegamos, á torre Effiel, esta ali um grupo de francesas, a fazer-te adeus.
Ergui a cabeça, e olhei á volta, mas não vi nada, ou seja, vi varias mulheres a beira das ruas, meias despidas, a sorrirem, para nós.
Colei-me ao vidro, a fazer adeus, pensei para comigo, lá se vai parte dos 500 euros, que me dês-te.
Mas não, fomos para outra zona da cidade.
Uma pensão conhecida, do Mário em Montmartre, ficaria a ser a minha casa, enquanto ali estivesse.
-Chico, ficas aqui nesta Pensão, e alem disso também tem os bares, estão abertos e os restaurantes, no caso de queres comer, eu vou andando, depois passo por aqui, para te levar amanhã, para teu trabalho novo, na casa CD não tenham medo, o teu trabalho é parecido, ao que fazias nos TIRs,  transporte na cidade e arredores, e etc.
Juízo! vais te relacionar, com  gente da alta sociedade, francesa e europeia, os que não são, para lá caminham, ou são amigos deles.
A tua ex. mulher, não esta em Angola, mas no Porto, com os teus filhos, arranjou, la trabalho, mais uma vez, Juízo!
Mário abalou, e fiquei á porta da Pension Sacre Coeur.
Entrei, na pensão, a recepcionista, esperava-me e dava-me as boas vindas em português, era portuguesa, estava ali há muitos anos.
Só me lembrava, do meu pai quando relatava, a sua vida pela aquela cidade, que o recebera, há muitos anos.
-Amiga, como se chama? O que se come aqui??? «a rapariga, respondeu de imediato.»
-Sr Francisco, amanhã de manhã, o pequeno almoço é entre as 8.00 e 9.00 horas da manhã, o almoço entre as 12.30 e 13.30 horas e o jantar entre as 19.00 e as 20.30 horas, deseja mais alguma coisa?
«não!! Respondi!»
-Então o seu quarto, é no 1º andar, se quiser se divertir, ao fundo da rua, esta o Moulin Rouge.
Ficou a olhar para mim, e eu subi as escadas.
-Até amanhã.
A rapariga, respondeu de seguida:
-Até amanhã, sr  Francisco.
Não tinha, mais nada que fazer, que me ir enfiar no Moulin Rouge.
Dos 600 euros, que tinha, já sobra pouco, a partir de agora, a minha vida, vai ser outra.
Olhei a janela, o Montmarte, não era muito diferente, do que eu via nas revistas, apesar de ser de noite.
Mário liga para mim, estava eu prestes deitar-me.
-Francisco? Amanhã vou buscar-te ás 8.30 horas já falei com monsieur yves Jacques, acerca do teu trabalho, na casa CD, juízo! A tua vida pode mudar, radicalmente, ate porque há hipótese , de voltares aos TIR, através de uma empresa alemã.
Deitei-me a pensar na ex-mulher e nos filhos, fazia bem telefonar, mas não tenho o contacto deles, talvez o Mário me pudesse ajudar.
Mário apareceu, como prometido, e fomos á casa Cristian Dior, um camião esperava-nos, carregado de mercadoria com marca CD para seguir para Londres, não fui sozinho Mário foi comigo.
Mário, contou-me pelo caminho, a hipótese de ambos irmos para  Ferrari, para ou BMW para grandes prémios de formula1 ou outras, ou Estados unidos da América.
A estrada era toda minha, muito dinheiro vinha por ai.
Fizemos percurso a meias, eu ate Amiens e Mário ate Calais, atravessamos o Canal da Mancha e chegamos a Dover, reino Unido, rumei a Londres.
Descarregamos a mercadoria nas lojas, CD atravessamos de novo Londres e voltamos para trás, para Paris, engraçado nunca tinha vindo a Londres, só á Escócia.
Mário falava ao telefone, em inglês, eu conduzia o TIR.
Eram três da manhã, quando chegamos, arrumamos o TIR, e seguimos para o Moulin rouge. «a minha desgraça, estava iminente, a loura russa deu-me volta á cabeça, e á carteira»
Mário, desapareceu, no meio das luzes, e eu acordei num hotel em Paris, nú em cima da cama, e o telemóvel a tocar.
Estou desgraçado, o dono da loja a perguntar onde estou, porque precisam de mim, para levar as meninas ao desfile de moda.
Dei uma desculpa, que estava no transito infernal parisiense, e tinha havido um acidente, isto estava um caos, perguntou-me onde estava, respondei de imediato, que não sabia, não conhecia ainda bem Paris, mentira, entrei ali dezenas de vezes.
O serviço para hoje, era levar as meninas ao desfile, o que começa a ser algo muito doce, como é bom viver, longe da família.
O chefe da loja, acreditou! Telefonei ao Mário, levaram-me a roupa, e eu tinha que sair dali, rapidamente.
Mário tinha o telefone desligado, a minha desgraça, estava todo nu, e com barba de dois dias por fazer, e o patrão a telefonar onde é que eu estava.
O telefone da recepção estava ocupado, e fiz o que vi, muitas vezes nos filmes, sai com a tolha á cintura, e desci la abaixo, a minha sorte é que não havia, por ali pessoas, e a toalha nunca caiu, sorte a minha.
 Tinha que fazer algo, rápido e não perder o emprego, que começara a ser muito bom.
Mulheres e viagens, eu vou com as meninas, para todo o lado.
Mário continua com o telemóvel desligado, o chefe do hotel arranjou-me uma roupa, depois de lhe explicar, um episodio diferente do, de ontem á noite.
Segui para a loja, Madame Gerard esperava-me com um grupo de modelos, embarcamos na carrinha, da empresa, e fomos para a sessão de fotos.
Eu estava eufórico, com tantos “filetezinhos”, esqueci-me da ex-mulher e dos filhos, eu era um homem feliz, Mário interrompe o meu sonho.
-Chico! o que se passa, tenho 20 chamadas tuas, e mensagens aos montes, que maluqueira foi essa, tiveste problemas com Maruska? «fiquei irritado, e respondi ao Mário»
-Não Mário!, fiquei foi sem roupa! E sem dinheiro, e estou todo nu, foi só isso!
E para sair do quarto, foi com uma toalha á cintura, valeu-me a simpatia do chefe dos quartos, que me emprestou a sua roupa, que vou ter que devolver.
Mário, ficou em silencio, mas depois respondeu.
-E eu também!
Linda aventura, no Moulin Rouge, nunca mais, «respondi, eu!»
Madame Gerard, chama-me para dar ajuda ás meninas, desliguei o telefone ao Mário, e segui as ordens da madame francesa, da casa CD.
Fomos para o sul de França, para sessão de fotos, ficaríamos ali pelo menos três ou quatro dias, eu não conhecia a Corte Azur, e fiquei a conhecer, era um local magnifico, pensava eu que conhecia tudo.
Aquele local era muito solarengo, um hotel que era sobranceiro ao mar, eu acompanhava as jovens manequins, que me despertavam as atenções.
Mário telefona-me:
-Chico? Onde andas?
Respondi:
-Na China, a olhar a grande muralha, e a ver os golfinhos na piscina!
Mário deu uma gargalhada, que ate madame Gerard ouviu.
Mário insistiu, e eu respondi:
-Na Cote D Azur! Filho! Com os “filetezinhos”.
Mario do outro lado:
-A tua mulher, procura por ti, digo-lhe onde estas?
Fiquei, em silencio, tive vontade de dizer que não! Mas não tive coragem.
-Olha Mário diz-lhe a verdade, mas por enquanto, não devem vir, porque o dinheiro  não chega.
Mário, do outro lado:
-Vou transmitir, que estas bem, e com emprego, e logo que possas, mandas noticias, fica com o contacto dela.
Fiquei contente, eu gostava da minha ex-mulher, talvez eu conseguisse arranjar alguma coisa para ela.
Os dias passaram rápido, e estávamos de volta, quando o meu telefone, toca.
Atendi, e era voz da minha ex-mulher, desliguei.
Telefonei ao Mário.
-Diz á Ângela, que não me telefone, não tenho nada para lhe dizer.
Mário não respondeu.
As viagens, com as manequins continuavam, já sem madame Gerard, apenas os fotógrafos as raparigas, que fazem a maquilhagem, e as estilistas.
Estava ocupadíssimo, eu já ajudava as meninas a vestir e a despir para mais depressa, comecei a desfilar com roupa, da casa com a falta de um manequim, o anuncio do perfume da casa, apareci eu.
Peguei no telefone, para ligar á Ângela, e desliguei, tinha uma peça de soutien, em cima da cabeça, uma menina, trocara de langerie ali mesmo, a minha frente
Mário surge, nessa semana pela primeira vez, depois do incidente com Marouska.
Fomos jantar, depois da minha saída da loja, não fui para o Moulin Rouge, mas para casa.
Pensava na Ângela, e nos miúdos, e olhava á volta do quarto da pensão.
Tinha que voltar aos TIR, e dar este emprego, na CD á minha ex-mulher.
Junho já ia no fim, e surge o meu primeiro ordenado, na casa CD fiquei maravilhado, bestial como é bom viver, em Paris.
Falei com o Mário, para lhe dar os 500 euros, que me dera em Portugal, mas Mário não quis, Mário era um tipo bestial, eu sabia disso, fui a uma igreja e dei ao tipo que esta na cruz.
-Olha, são para ti, tu também me ajudas-te, a sair daquele sufoco, obrigado.
De seguida coloquei a nota, na caixa onde diz Jesus Cristo, deve ser aqui.
Informei-me com uma pessoa que ali estava, e confirmou isso mesmo.
Um “filetezinho”, cruzou-me comigo, ao sair da igreja.
-Então, onde vai? O que faz aqui? Não quer ir comigo, para o Mónaco, para semana? Vamos ao principado, apresentar a nova colecção da CD, vou mais a Ingrid e a Marie!
A modelo era linda, muito alta, loira nórdica e uns lindos olhos azuis da cor do céu, fiquei em silencio, a olha-la.
Vá venha «dizia a modelo!» preciso da sua ajuda, para me ajudar a vestir e despir depressa, as colecções de Michele Gaipan.
Deixei cair o cheque, para o chão, que de imediato, apanhei.
Esta bem! Esta bem! «respondi de seguida».
Onde estou metido, estou encarregue por elas, de as vestir e despir, já vi mais mulheres nuas num mês, do que em toda minha vida.
Mas eu gosto disto, ate ver.
Voltei para a loja, depois da manequim, seguir pela avenida, em direcção ao carro, de longe pareceu-me que conhecia, quem conduzia o Porshe, aquele tipo não me era estranho.
-Estou, Mário? Onde estás?
Do outro lado, Mário ria á gargalhada:
-Estou no Porshe preto, para onde foi Myriam, já passo ai, para irmos carregar o TIR, para o Mónaco.
Mário apareceu, com Josefine que chegara á pouco a casa CD, Josefine, ficava entregue a mim, e a viver na pensão, ate encontrar, outra casa.
Carregamos o TIR e Josefine vem comigo, a pensão estava cheia, e Josefine olhava para mim.
-Eu fico no seu quarto?
Olhei, bem Josefine, e pensei, «mais um “filete”», concordei, de seguida.
-Esta bem! Pode ser, eu vou dormir com o Mário.
Chegava a pensar, se o meu pai, teria passado por tudo isto?
Se calhar não! Por isso abalou para Portugal mais cedo, e dedicou-se á agricultura.
Se ele tivesse, este meu trabalho aqui na França, eu não tinha nascido.
Nessa noite dormia na pensão, onde estava Mário.
Cruzo-me com Josefine, muito triste perto do Sena.
Encostei-me a Josefine e sorriu.
Convencia a ir connosco para o Mónaco, para semana.
E josefine concordou.
Fiz aquilo no ar, eu nem sequer sabia, se a marca CD a queria levar.
Naquela noite, falei com Mário queria voltar aos TIRs.
Mário, ficou de resolver o assunto.
Os dias na CD foram tranquilos.
Poucos dias depois, Mário liga, estava eu já deitado.
-Mário?
Do outro lado boas noticias, pela voz de Mário.
-Olha pensei no teu assunto, que tal ires pisar o asfalto norte americano, e ate á Califórnia? Os donos da empresa americana, são luso descendentes! Que tal? Dólares, contrato por dois anos.
Era muito dinheiro, «eu respondi ao Mário.»
-Eu vou!. 
Eu só já via o asfalto Califórniano, eu era apaixonado  pelos TIR, vasculhei os números do telemóvel, e encontrei alguns contactos de colegas que trabalharam nos Estados unidos, escolhi Jean Jacques.
Jean Jacques estava na Noruega quando atendeu o meu telefonema.
-Oi, português? Como vai isso?
O entusiasmo de Jean Jacques, deu-me vontade de lhe fazer uma pergunta.
-A tua empresa americana, precisa de pessoal para os TIR?
Jean jacques, do outro lado, pareceu sorrir:
-Há sempre lugar para ti, companheiro português, mas eu agora pertenço á BMW alemã, mas posso falar com eles, se quiseres? Mas há uma companhia de portugueses descendestes, nos Estados Unidos, que talvez te dê trabalho? Ou vou ver os dois casos, depois ligo, sempre tens opção de receber em euros, ou em dólares.
Aguardei, a resposta de Jean Jacques, já não fui para o Mónaco, naquela semana atribulada.
Na manhã seguinte, segui com Mário para Roma, com mercadoria da CD para as lojas, daquela cidade..
Passávamos a fronteira, Francesa com a Italiana, já íamos em Turin quando o telemóvel toca, é Jean Jacques, atendi de imediato, sem responder.
Do outro lado, a voz de Jean Jacques:
-Português? Tenho boas noticias, a BMW, quer conhecer-te, e os americanos também! onde andas?
Parei o TIR e respondi:
- Estou a caminho de Roma, vamos na estrada que liga Turin a Milan, norte de Itália.
Jean Jacques:
-Diz ao patrão, que precisas vir á Alemanha, ou aos Estados Unidos ver o teu irmão que esta doente. «de seguida desatou a rir»
- Estamos na Baviera, e para semana ficamos á tua espera.
Não disse ao Mário, aguardei a chegada, a Roma.
-Quem era «perguntou o Mário?»
Respondi:
-Ângela, esta na Baviera, arranjou trabalho, foram os tios.
Mário, olhou-me desconfiado..
A viagem seguia para Roma, Mário não falou uma palavra.
Eu compreendia, mas a minha vida não era só, a vestir modelos e a despir modelos, eu gostava do asfalto e dos TIR.
Entreguei o TIR ao Mário, e embarquei num avião para Alemanha, depois logo resolvia, se iria aos Estados Unidos.
A desculpa era, os tios doentes, telefonei á Ângela, para não abrir a boca, no caso de Mário lhe ligar.
Ângela estava na Alemanha também,  em casa dos tios, mas em breve iria para Angola, para junto da irmã mais velha, que tinha um restaurante em Luanda.
Naquela semana, fui á BMW alemã e á Califórnia, com Jean Jacques.
Fomos conhecer, a Companhia TIR and Brothers, de luso descendentes, que transportava todo tipo de mercadorias, e alugavam TIRs.
Era ali que ficava a conhecer, a celebre route66, que atravessava uns sete ou 8 estados, Norte Americanos.
Para já, a minha vida seria por agora,  tomar uma decisão entre a BMW alemã, e a companhia Californiana, dos EUA, quem paga mais!
Era o que eu precisava, para decidir o que fazer.
Tinha de tratar dos vistos, para poder trabalhar lá, a embaixada Portuguesa em  Paris, tratava disso.
Jean Jacques, convenceu-me a ficar na Alemanha, mais simples e muita gente conhecida, contamos o segredo ao Mário, mas ele preferiu, voltar á formula Drift, em Itália ou Formula1.
Tencionava voltar,  trabalhar na Ferrari, nós compreendemos a paixão dele, pelos carros de competição.
Eu ia despedir-me da CD, em breve tempo, e com muita pena.
Grande camaradagem, e uma vida com muita gente, conhecida, da alta sociedade.
Adiar o regresso  para Portugal, estava nos meus planos, a curto prazo eu gostava desta vida, no estrangeiro e dos TIR e do asfalto, e conhecer novas gentes, outros costumes, e paisagens.
A viagem para Portugal, não tinha para já! um regresso. 
Ana Paula Alberto Caldeira, MAI 1995


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AMOR E SOLIDÃO





Na solidão da sua casa, a poetisa, escrevia sobre um amor perdido, para os braços de outra mulher.
Na tv, passava um filme, adormeceu, deixando o rascunho ali, perto de si.

“Partiste e eu na esperança que voltarias, tal como nos outros dias.
Sozinha olho o horizonte aqui da janela do meu quarto, do mesmo sito que te via abalar, naquela tarde invernosa, desde esse dia nunca mais consegui, escrever em prosa.
As lágrimas correm uma a uma pelo meu rosto, o Inverno passou, a primavera, veio, e o verão chegou. As tuas coisas, ficaram comigo, aqui neste quarto que foi nosso, e eu não posso viver mais este remorso.
As folhas já caem, neste Outono ameno, estão velhas e amareladas, como os livros da estante que tu tanto amavas, e que passava horas a contempla-las e falavas, das historias por onde, andavas.
Batem á porta, os cães ladram, quem será meu deus, serás tu de novo, ou será barulho do vento.
A minha imaginação traiu-me de novo, quando abri a porta era o carteiro, com cartas para ti de novo.
Não tive coragem de as abrir, eram amigos teus, mais tarde descobri, desejavam-te os parabéns, tentei escrever algo sobre ti. Precisava sair, deste espaço e faze-las seguir para o destino.
As horas passaram e já era tarde, o sol escureceu, acendi as luzes da sala, uma pilha de livros em cima da tua mesa, porque já não cabiam nas estantes, e muitas cartas por escrever, na secretaria.
Sentei-me no sofá onde me sentava tantas vezes, a contemplar o teu retrato, o mesmo de muitos anos.
Batem á porta, o medo apodera-se de mim, os cães não ladravam noite já ia longe e eu nem dei  por ela passar, escondi-me quando ouvi a porta  ranger, os cães não ladraram.
Estava na capela, quando vi, que eras tu, que voltara de novo para mim, e foi ali que tu me encontras-te, tal como nas outras vezes, que  tu fugias de mim”.

Acordei tarde, naquela manhã chuvosa de outono, o despertador tocara com se fosse um dia de semana, os cães ladravam e eu sorri, caminhei pela casa, em pijama.
À porta, estava o vizinho Bakary, que chegara de novo da sua arábia saudita
Sorriu, quando me viu de pijama, não era por mim, era das vaquinhas com a língua de fora, deixou os meus pedidos de café, e abalou envergando os trajes sauditas, como era seu habito, quando regressara.
Voltei ao rascunho, os cães ladravam, estranho eu já apagara a Tv, debrucei-me e o barulho, vinha do fundo da rua.
Estava difícil tornar ao livro “amor e solidão”, naquela tarde acinzentada.
A campainha toca de novo era Bakary , que viera trazer chave do palacete, do conde S. Estêvão.
Nesse dia saboreei o café gostoso e cheio de paladar da arábia.
Voltei ao livro, guardei a chave do palacete como era costume.
Li o rascunho que escrevera, parecia ter sentido, sai um pouco para a rua, parei-me em frente do palácio do conde, quantos historias não teria aquele palácio, naquelas bibliotecas, e quem sabe, diários secretos.
Apesar de ter a chave, não me atrevi a entrar, Bakary não estava, e o meu relacionamento com ele era distante, mas amistoso.
 Voltei para casa, a sala das telas estava em desordem, as estantes também, e a cozinha igual.
Os dias que se seguiram, foram chuvosos, e frios, acendia a lareira da sala, e ficava por ali. A organizar as telas, e a pintar, novas.
O livro ia ficando adiado.
Os cães ladravam de novo, pensei de imediato, gatos por perto.
Anoiteceu, adormeci no sofá do atelier.
A campainha toca e os cães ladravam, ignorei, não fosse a voz de bakary, na janela da sala.
Levantei-me ensonada, era de facto bakary , com uma caixa de livros da biblioteca do palacete do conde estêvão.
Fiquei radiante, e bakary também, entrou e colocou a caixa no atelier e contemplou as telas, colocou dinheiro em cima da mesa e levou as que mais gostava.
Quando saiu, reparei que o atelier ficou mais vazio e um monte notas, ali agrupadas em conjunto.
Os cães ladravam, mas desta vez devia ser gatos, porque depressa se calaram.
Não voltei a ver Bakary.
A caixa com os livros continuava ali, no meio do atelier, a sala voltou a encher-se de quadros.
Abri finalmente a caixa com pacotes de café, livros e uma carta.
Abri a carta:

“Querida amiga,

Decidi fazer do palacete uma fundação, brevemente terá vizinhos novos, e a minha presença mais assídua, por estes lados.
Entretanto como os negócios correm muito bem, resolvi comprar o bairro inteiro.
A sua casa esta incluída.
Esta carta tem como principal objectivo, convida-la para presidente da Fundação Príncipe Bakary Hamed Abulah.
Espero que aceite.
Brevemente indicarei, quem vai trabalhar, ao seu lado.
Continue com as suas telas e os seus livros.
Bakary.”

Era habito bakary deixar cartas debaixo da porta, a encomendar telas, e livros.  
A campainha toca e os cães ladram, não abri, estava concentrada na caixa, livros e mais livros, um deles era a biografia do conde Estêvão
Outro livro despertou-me a atenção, os “amores e desamores, de um conde” desfolhei-o, uma espécie de diário, que suponho sobre, os relacionamentos amorosos do conde.
Comecei por ali:

“Naquele fim de tarde, no bordel, augusta trindade mandara recado pelo fidalgo Joaquim dos ramos da cunha e silva, que tinha novidades para mim, recebi  o ilustre fidalgo da corte de D Carlos, rei de Portugal, , que esperava resposta, reunimo-nos na saleta, das orquídeas, por ser mais recatada, para este tipo de assuntos, eu estava com algum pressa, tinha afazeres junto de Sua Majestade, o rei de Portugal”

Fechei o livro, não vi nenhum interesse, naquele tipo de leitura, que suponho venha ser erótica ou pior.
Mas talvez não, resta saber onde bakary encontrara este livro.
Os cães ladravam, e a campainha toca, fui ver o que se passará.
Um envelope debaixo da porta, com uma chave.
Bakary, deixara ali a chave, e estava de regresso á sua arábia saudita.
Não previa a sua vinda, por causa dos negócios na sua arábia.
Voltei á caixa dos livros, e a tentação foi mais forte, voltei ao livro dos “amores e desamores” de um conde.

“A reunião com sua majestade foi breve, mas para mim uma eternidade, não por sua majestade, ilustre rei português, das mais finíssima linhagem, da aristocracia portuguesa e estrangeira.
Mas porque a minha ânsia, era enorme para conhecer a novata, que chegara ao bordel mais afamado e prestigiado, da aristocracia de Lisboa.”
“D Manuel da cunha e Antunes, ilustre nobre da corte, cruzou-se comigo, nas ruas da baixa de Lisboa, falou-me de uma francesinha, que chegara pelas mãos, de augusta trindade, nossa amiga de muitos anos, por quem D. Manuel tinha enorme admiração, e eu também.
Vi no sorriso do meu ilustre amigo,  o interesse pela novata.”

Atirei com o livro, para o sofá, o conteúdo, seria so, este mesmo.
Fui espreitar o palacete, , abri a porta e um pátio com umas escadas, em frente, do lado esquerdo a estatua do conde em tamanho grande, com uma farda de militar, e do lado direito, o brasão real ducal, fechei a porta da rua, acendi as luzes, duas portas de ambos os lados, com acesso para  o pátio.
Subi as escadas, de pedra de mármore branca, e olhei as tapeçarias árabes que decoravam as paredes, e os degraus da escadaria de pedra.
Ao cimo da escadaria, as minhas telas emolduradas.
Vários corredores, com passadeiras oriundas da região árabe,  respirava-se um aroma  agradável, no palacete, era uma mistura aromática, com cheiro suave
O palacete estava em muito bom estado, uma porta entreaberta, para um corredor, despertou-me a atenção.
Fui espreitar a sala, um enorme espaço, com varias estantes com livros,  e mais livros, espalhados por mesas, de estilo árabe, uma outra mesa, do mesmo estilo, logo ali á entrada, com os meus livros.
Voltei para trás, e sai do palácio, eu nunca haverá ali entrado.     
Estava fascinada, faltava muito mais para ver.
Voltar ao livro “amor na solidão”, estava fora dos meus planos, para já, existia muita coisa, na minha cabeça.
Fui para o atelier, mas não por muito tempo, voltei a ler o rascunho de há muitos dias, do “amor e solidão”.
Tinha necessidade, de completar o livro, os cães ladram, estremeci, resolvi começar por ai.

“A campainha tocara, na solidão desta casa, ouve-se ate no sótão.
O meu amor por ti, transbordava em paixão, e tu sabias disso, voltas-te a sentar-te, na tua secretária, desta vez, eu não me sentei no sofá, achei não o fazer, porque percebi, que isso te incomodava.
Na solidão daquela casa, o amor eras tu e eu, a minha vida, era ali, no escritório e na tua companhia,.
Já nevava, de novo, quando acendi o lume, tinhas saído e tardavas em vir.
A comida no fogão esfriara, a neve acumulara-se junto da janela, fiquei sem luz, acendi uma vela, e fiquei á espera que voltasses, a noite foi fria, outro nevão caiu, de manhã tive que cavar neve, para poder ver a montanha, não podia sair dali, enterrava-me na neve, de ontem e mais a de hoje, desesperada, por não saber de ti, subi ao sótão, e abri a janela, olhei em redor, o teu carro não estava ali, desci, ate ao piso debaixo, levaras tudo, o que tinhas ali, as gavetas estavam vazias, sem as tuas coisas, partiste para sempre.”

A campainha tocara, larguei o rascunho, os cães já não ladravam, olhei o relógio, era cedo, apesar de já ser escuro.
Espreitei pela janela, não conheci, era um homem velho, e sujo, tive medo, peguei no telefone, quando vi do outro lado, Bakary, respirei de alivio, o meu vizinho estava de volta.
Reparei que o árabe, trouxe comida e roupa ao velho mendigo, escondi-me atrás dos cortinados, sem que bakary percebe-se, a minha presença ali.
A minha vizinha de cima, vem ter comigo, explodira um carro, no quarteirão de cima.
Fiquei aterrorizada, saímos juntos e bakary também, tinha acabo de chegar, da sua arábia, e foi connosco, tal como vinha, com o seu traje árabe.
Quando chegamos, despertamos á atenção, eu por ter o cabelo, acobreado, e calças ás bolas, com blusa ás riscas, a minha vizinha, vestia preto, e as suas correntes de estimação, o árabe, passou despercebido, no meio de nós as duas.
A policia chega, o carro explodira, porque foi regado com gasolina, algumas pessoas do bairro, falam baixo, sobre a situação, não querendo prestar declarações.
Voltamos os três para baixo, para o palácio do conde Estêvão, jantar com Bakary.
Naquele instante, surgiu-me a ideia de procurar mais literatura sobre o conde Estêvão, que afinal tambem tinha o brasão ducal.
Eu, estava era apreensiva sobre a historia de um outro, escritor, que era o conde Estêvão.
Bakary, percebera, e trouxe o que eu queria, o outro diário do conde, “A vida de um Duque, em Macau!”
Quando bakary, me deu o livro para ler, e sorria, pensei se tratar de outro diário, do conde, mas não era mais, do que mais uma historia, da sua vida.
O conde, tinha varios títulos, entre eles o de Duque..
Comecei a perceber, que o aristocrata, famoso pelas suas viagens, e aventuras famosas, escrevera livros e livros sobre a sua pessoa, e outras pessoas, como o caso da mulher, do convento dos frades da ordem, de S madalena.
Malanie, dormia no sofá, depois de ter bebido um garrafa de champanhe, enquanto eu  e o árabe, vasculhava-mos livros acerca do conde.
A minha curiosidade, contagiou o meu vizinho.
Melanie, ressonava, tinha as collants rotas, como costume, mas como as saias eram cumpridas, disfarçava.
Foi difícil levar melanie, para casa, mas conseguimos.
Bakary teve visitas, no dia seguinte, eu e melanie, assistimos da minha casa, pensamos ver ali, as mulheres de bakary, mas enganamo-nos, vieram ferraris, maseratis, e porshes, mas sempre homens.
Nem eu, nem melamie, tivemos coragem de perguntar, ao vizinho mais rico do sitio, onde estavam as mulheres dele.
Melanie fe-lo, e bakary, trouxe as fotos, da familia toda.
Naquela tarde, bakary ofereceu, umas meias novas, a melanie, que a deixou muito contente, por serem do agrado dela, pretas, com bolas rochas.
Bakary fez encomendas de telas, e fiquei retida em casa, alguns dias, alem disso, a promessa de ser presidente da fundação, também se confirmava.
Naquela manhã solarenga e amena de inverno, voltei aos “amores e desamores”

“Depois do jantar fui ao bordel de augusta trindade, a novata estava naquele quarto, de veludo azul, onde eu, tantas vezes estive com outras novatas, trazidas , pela mão da patroa.
Na sala cruzei-me com ilustres, nobres da corte portuguesa, e da aristocracia de Lisboa, entre eles, e o digníssimo duque João de Sousa e campos.
Procurava o mesmo que eu, um serão de encantos.
Augusta trindade, fez-me sinal, para entrar, o amigo duque, orientou-o para outra sala.”
“A minha ânsia, era tão avassaladora, que comecei a retirar a minha roupa, ali como era costume, augusta trindade, surge explicando que a novata desapareceu do bordel, fingi, não perceber, porque vi o interesse, do duque por ela.
Segurei augusta, e fiquei com ela, naquele quarto, azul claro, o serão.
Quando, sai dali, o salão estava deserto, algumas bebidas em cima das mesas, e xailes pendurados nas cadeira.
Segui o corredor para o quarto, onde estaria o duque, com a novata, eu conhecia aqueles recantos todos, passava ali, noites e noites.
Espreitei pelo orifício da fechadura, e la estava o duque, em posições sensuais, com uma mulher, não era a novata.
Augusta trindade, puxou-me pela camisa, e levou-me para o seu quarto, perdi-me de novo em seus braços, eu amava aquela mulher”
“De volta ao palácio, ja de manhã, como era habito, recebo a noticia, do fidalgo correio do rei, que sua majestade, tinha um convite para mim, muito interessante, corriam rumores na corte de D. Carlos, que eu iria para Macau.”
“Tomei banho, com a ajuda de uma criada, novata ali, que muito me encantou, e que a levei comigo mais tarde para Macau, e que depois abalou, para o interior da china, com um homem de negócios, inglês.
 De seguida dirigi-me para a residência real, onde já me aguardavam, alguns amigos meus, secretários do rei.
Fui recebido por sua majestade, numa ala do palácio de Belém, naquela breve reunião, recebi um convite, para ser governador de Macau.
Era com imensa pena, que deixava a nobreza de Portugal, mas ir representar sua majestade em terras, de presença portuguesa de muitos séculos, era uma honra.”
"Nessa voltei ao bordel, a minha ânsia de conhecer a francesinha, era maior, que tudo, nem que para isso, eu tivesse, que recorrer á guarda real, para traze-la, para junto de mim, naquela noite".
"Augusta trindade, desviou-me as ideias, levou-me para outro quarto, onde me aguardava, outra mulher nova ali, de uma beleza estonteante, que quando abri a porta do quarto, estava completamente nua,  á minha espera, em cima da cama, numa posição, muito sensual, cheguei perto, e puxou-me, para cima dela"

O diário, faltava folhas, e dei por mim, a meio de um romance, muito interessante,

o conde era exibicionista, pelo o que pude ler, escrevia as suas cenas demasiado explicitas, em relação ao que se  passava, naqueles quartos, provavelmente, alguém arrancou as folhas.
O "amor na solidão", ia ficando, adiado e sem ideias, desfolhei o livro “a vida de um duque em Macau”, e encontrei, ali umas folhas soltas, espero que sejam, as que faltam no diário.
Mais tarde descobri, que aquelas folhas, eram da francesinha, que voltara, para o bordel, já depois da saída, do conde para Macau.
E que acabara desterrada, para Angola.
Dai o interesse do conde Estêvão, em traze-la para Macau
Com o outro livro na mão, e sentada no sofá do atelier, recostei-me a saborear, o calor da lareira acesa, desfolhei o  livro do Conde, a sua vida em Macau.

“A vida de um duque em Macau, é a minha historia, a vida de homem da nobreza portuguesa, neste recanto de mundo, como representante do rei de Portugal, ali naquele pequeno território, muito importante para a coroa portuguesa.
Comecei a sair com amigos fidalgos e homens de negócios, ingleses e portugueses, que chegam ali, vindos de outros pontos da china.
A casa do governador, era lugar de muitas festas e reuniões, ate tarde.
Numa dessas reuniões, corri o boato que uma mulher da nobreza, tinha sido desterrada para Angola, procurei saber quem se tratara, e traze-la para Macau.
Descobri através de augusta trindade, quem era, a ilustre novata condessa, e que passara, pelo bordel que eu frequentara, casara mais tarde, com o ilustre nobre da aristocracia de Lisboa, mas já com muita idade, que entretanto falecera.
Confidenciara-me que, a novata foi expulsa pela família do aristocrata, por ser mulher de bordel”.
"Depois destas noticias do reino, os meus passeios, á baía da praia grande, tornaram-se frequentes, sentia necessidade de ver o mar, este o mar da china, embarcações tradicionais chinesas, cruzam-se naquele lugar, era frequentemente ver por ali, comerciantes chineses, que iam e vinham."
A arquitectura colonial portuguesa, cruzava-se com a chinesa, e as mistura de aromas, na zonas antigas de Macau, dava-lhe outro encanto"
"Vivia feliz naquela parte do mundo, principalmente, por ser representante de sua majestade, o rei D Carlos de Portugal, ilustre nobre da real aristocracia portuguesa"
"Francisco Shoy, macaense foi visitar-me naquele resto de tarde quente, e com uma brisa suave, trazia novidades de Lisboa,  acabara de chegar, de lá.
A carta de augusta trindade, era muito explicita, josefine vasselie, fora desterrada pelo rei, para angola a pedido da família do conde, falecido”.
“As outras novidades, eram os negócios de Macau, que estavam, em ascensão.
Uma das minhas preocupações, era trazer josefine, para junto de mim."
“Diplomaticamente, junto de sua majestade, o rei de Portugal, consegui, que a josefine, viesse para Macau, para minha casa, de modo algum, eu queria que esta jovem mulher, fosse desterrada, e sem experiencia alguma, de vida dura e sem conhecimento, de terras de Angola.”
“Consegui realizar o meu sonho, e fez durante muito tempo, as minhas delicias, eu era uma criança nos braços dela, ate que decidiu, ir para um convento, eu percebi, o interesse repentino de josefine, confidenciaram-me, a presença monges novos, de origem inglesa, ali no mosteiro, ignorei, estava de abalada, para Lisboa.”
“A minha viagem era de  negócios, mas provavelmente, já não voltaria para Macau, mas para outro canto, do mundo português.”
“Quando recebi a noticia, do assassinato de sua majestade o rei D Carlos nem queria acreditar, foi um tormento, para mim, eu era amigo pessoal de rei D Carlos, e fiquei muito abalado, a minha indignação, era enorme, D Carlos sabia disso, eu próprio o tinha avisado, de rumores, mas sua majestade, era um homem sem medo”.
“Segui de imediato para Hong  Kong, existia uma grande confusão, e Lisboa estava uma cidade, perigosa, por causa dos republicanos, falava-se de guerra civil, e outras coisas mais, diziam os viajantes, eu, embarquei com eles, nessa tarde, a maioria era ingleses.
A francesinha soube, e veio no mesmo navio que eu, para o outro lado da China”.
“Conde Gantery, recebia-nos, muito se falou acerca do assassinato do rei, e as convulsões em Lisboa, com os republicanos, aconselhou-me a ficar por ali, se eu entretanto quisesse, poderia ir para Londres, para a sua casa, pensei muito, e aceitei, Josefine acompanhava-me, e passava por minha mulher, augusta trindade procura-me em Macau, com o telegrama, e uma carta, que eu estava afastado, do cargo de governador de Macau.”
 “O telegrama, e a carta, chegou ate mim, mas augusta trindade, não.
A hipótese de me tornar republicano, iria por a minha família, em estado de choque, perderia a meia dúzia de títulos nobiliárquicos, que ostentava, a minha família, era a família nobre portuguesa, que mais títulos, nobiliárquicos, tem em Portugal.
Nunca me perdoariam”
“Augusta trindade, trazia a novidade, que era ainda aparentada, com Teófilo braga, primeiro chefe de estado republicano, de Portugal, o que me trouxe grande alivio, mas muita dor de cabeça, casar com augusta trindade era uma hipótese, e ir para Londres, outra, e a certeza, é que aquele cargo já não era meu, o pior”

Fui interrompida, pelo toque do telefone, bakary recomenda, mudanças de estilo, para a minha pessoa, eu era a presidente da fundação, com o seu nome, eu tinha-me esquecido, do pormenor fundação.
Muita coisa tinha que mudar em mim, começando pela roupa.
Vasculhei o guarda roupa e o sótão,  encontrei, algumas peças, clássicas que servem, para a ocasião, com o calçado, o mesmo, o resto melanie emprestou-me.
Mudei de roupa, um casaco channel vermelho, com gola em bico, assentava-me lindamente,   a peça única desenhada por mim, á mais de vinte anos, do qual nunca desfilei, as mangas também, tinham forma de bico, a saia justa de tecido com elasticidade, escolhi a preta, usei algumas vezes, estas saias, desenhadas, por um amigo meu, o sapato clássico, não era o muito alto, Cabelo preso, e maquilhagem discreta, no armário, encontrei perfumes que melanie não gosta e traz para aqui, encolhi um channel 5.
Estava de saída, e cruzei-me com bakary, na rua, não me conheceu.
Decidi, fazer uma visita pelo palácio, um dos directores acompanhava-me.
Chegamos, meu gabinete, era de um luxo, nunca visto, todo envidraçado, com vistas para a rua, os livros do conde Estêvão, acompanhavam-me, para todo o lado, principalmente, os que estava ler.
Finalmente, bakary descobre-me.
Melanie, chega e solta varias gargalhadas, quando me vê, com novo estilo.
Os dias que se seguiram, foram de reuniões e reuniões.
Bakary estava de volta, para arábia saudita, a fundação estava entregue.
Tínhamos o piso de cima, para a biblioteca, e escolha de livros, para reproduzir e para venda.
O piso debaixo exposições de pintura e desfiles de moda.
Um dos directores da fundação, chama-me atenção para um conjunto de telas, do conde sobre Lisboa, cascais e Macau.
Descobrimos outro livro, sobre si, “A mulher que nunca amei” deixei aquele terceiro volume, para mais tarde.
Coloquei a folhas do diário, “amores e desamores” no sitio, porque estavam noutro livro.
Passei a noite no gabinete, a olhar a rua iluminada, naquele palacete, construído antes do terramoto de 1755, e que sobreviveu, devido, ao enorme santo que ostentava, na entrada, que era São Estêvão.
Ouvi barulhos estranhos, naquela noite, anotei numa folha poderia ter interesse, para o “amor e solidão” os cães ladravam, quando me aproximei da janela.
Melanie, tocava campainha da minha casa, e batera também na porta do palacete.
Deitei-me no sofá.
De manhã, um dos directores acorda-me, com uma novidade estonteante, bakary doou a fundação, ao grupo que a tutela.
Ou seja, eu e os directores, éramos os donos daquela fundação, que agora teria que mudar de nome, reunimos de imediato, o nome seria, fundação Duque Afonso João, Conde Estêvão, minha sugestão.
Levantei, a cabeça, e olhei para o quadro, á minha frente, onde estava o conde, duque, fiquei com a impressão, que levantou ligeiramente, os bigodes grisalhos, e sorriu.
Ou eu estava maluca, confirmei, mais tarde, que era verdade, voltou a levantar os bigodes, quando me despi no gabinete, para vestir roupa de um estilista amigo meu.
Eu queria, fugir dali, mas não consegui, de volta para o gabinete, encontro uma caixa, em cima de uma mesa, onde estava outro quadro do Conde, uma tela muito perfeita, do conde, numa caçada, o meu espanto, a caixa tinha jóias.
Para não enlouquecer, passei mais tempo na minha casa.
O livro “mulher que nunca amei” estava a seguir aos outros.
Voltei para o palacete.
O meu gabinete, estava a porta aberta, tinha alguns documentos, em cima da secretária, “a mulher que nunca amei”, evadia-me de curiosidade.
Caminhei, por entre corredores, algumas portas estavam fechadas, solicitei a ajuda de colaboradores, e fomos descobrir aquele espaço.
A primeira porta que abrimos, o quarto do conde, alguma roupa sua, em cima das cadeiras, e uma foto de uma mulher com uma coroa.
A sala seguinte outra cama, e outra foto mas da mesma mulher, a ideia com que ficamos, foi, ser a tal mulher que nunca amou, mas que provavelmente, casou.
Abrimos as janelas daquele espaço, mexemos nos tecidos, eram recentes, ficamos confusos, um dos nossos colaboradores, explicou que o palacete, estava habitado, por descendentes do conde, duque, após investigação na biblioteca, tinha constatado, isso.
As ideias surgiram-nos, ver todos os quartos, e mais tarde, abrir para museu.
Reunimo-nos no meu gabinete, bakary estava de volta e encontrou-nos, ali.
Desfolhei, o livro e olhei o retrato da tal mulher, seria a mesma pessoa.
Mais pesquisas, na biblioteca, não nos deram nada de novo.
Resolvi desfolhar o livro.

“O Natal nos Alpes, é muito diferente, do de Lisboa.
Não tem presépio, mas arvores de natal, mas muitos enfeites.
Marie claude, trouxe as crianças, para junto de nós, naquela ano, estávamos casados, á meia dúzia de anos, e fez questão, de passar o natal com a família dela, na suíça, porque costuma ser em Lisboa.
O casamento, com aquela aristocrata,  fora a solução para as minhas dividas.
Vive, anos de felicidade, por causa dos meus filhos, mas também, por ser o mais famoso, homem de negócios, de Genebra.
A mulher que nunca amei, era uma pessoa, distante e que também não me amava, eu não fora, o que ela desejaria para si, mas seria, o melhor para ela.
Os negócios de relógios, e negócios da família em Hong kong, fez deles, uma família de banqueiros, mais famosos da Europa.”
Já percebera a historia, agora como seria o fim.
“Após o falecimento do pai de Marie claude, e o falecimento desta, anos depois, fiquei viúvo, aos cinquenta e poucos anos.
Apesar de ainda, com meia  idade, e de marie claude, ser a mulher, que nunca amei, respeitei sempre, a sua memoria, e os nossos filhos, claro.
Os meus filhos, ficaram á minha guarda, em genebra, não tinham ambições de casar de novo, mas de voltar para Lisboa.”
“Os negócios, transferi a sede para Lisboa, um cunhado meu, alemão de origem judaica, ficou com a parte de genebra, e os relógios.
Eu ficava com os negócios de Hong kong, ele aceitou, não gostava de viajar, eu adorava.
Voltei a Macau, revi historias antigas, da minha vida, de boémio.”
 “Mas tudo, passa na vida, a morte do meu pai, trouxe-me mais um titulo,  o de duque, este assunto, já não interessava, num Portugal republicano.
Os ventos traziam, fumos de guerra, no centro da Europa, o meu cunhado e eu, tememos”
“A mulher que nunca amei, e que nunca me amou, descobri mais tarde, no seu diário, deixou-me marcas, de solidão e de angústia, porque afinal, o que nos uniu, fora um grande negocio”

Fechei, o livro.
Voltei para minha casa, deitei-me em cima da cama, e adormeci, á minha volta três livros do conde, e um meu.
Os cães ladravam, e a campainha toca.
Acordei, melanie, vinha eufórica, recebera um convite para fazer uma tournée, de volta ao mundo para promover o seu novo álbum, vinha convidar-me, para ir com ela.
Não hesitei, e aceitei, deixei os livros ali, e fomos para casa da melanie.
No dia seguinte, reuni, com os directores, promovemos a abertura de um museu, entreguei, os livros á fundação, e rumei com melanie, de volta ao mundo.
Já não voltei para Lisboa, fiquei  em Nova York, com antigos amigos, voltei á minha antiga profissão, estilista e modelo.
Melanie, seguiu para Austrália, e so voltaria da tournée, para o ano.
O resto, ficara para trás, Bakary, vai ao meu encontro, gostou das minhas telas sobre Houdson, e do meu novo livro, “Back to New York, after 10 years” e convidou-me a conhecer, a arábia saudita.
Dali segui-mos para Dubai, com um grupo de amigos, e ali fiquei durante algum tempo.
O destino, reteve-me ali, quando naquela tarde, na praia, com uns amigos, me cruzo com Hamed, meu ex-marido.
Eu conhecera Hamed, em NY, quando era modelo, entretanto, as digressões mundiais, pela agencia de modelos que representara, fazia muitas ausências, e  Hamed regressou ao Dubai, depois de terminar, o doutoramento em medicina.
Optamos pelo divorcio, o encontrarmos este tempo todo depois, foi gratificante para os ambos.
Hamed não casou, e eu, estava divorciada pela segunda vez.
Fiquei no Dubai, e comecei a escrever o diário, “Together again”
Ana Paula Alberto Caldeira 09/12/13